Título: Portões de Fogo
Autor: Steven Pressfield
Editora: Marco Polo (Contexto)
Páginas: 432
Ano: 2017
ISBN: 9788572449953
Onde Comprar: Amazon - Saraiva

Sinopse: 
O rei Xerxes comanda 2 milhões de homens do império persa para invadir e escravizar a Grécia. Em uma ação desesperada, uma pequena tropa de 300 espartanos segue para o desfiladeiro das Termópilas para impedir o avanço inimigo. Eles conseguiram conter, durante sete dias, dois milhões de homens, até que, com suas armas estraçalhadas, arruinadas na matança, lutaram “com mãos vazias e dentes” até finalmente serem mortos. A narrativa envolvente de Steven Pressfield recria a épica batalha de Termópilas, unindo com habilidade História e ficção.

Resenha: Portões de Fogo é um livro magnífico, retrata uma das mais famosas batalhas da história, este livro foi escrito pelo ex-militar e autor Steven Pressfield, ele por sinal escreve livros de ficção histórica e através de Portões de Fogo o autor pretende nos apresentar e recriar a famosa Batalha das Termópilas que ocorreu entre os Espartanos e seus aliados (algumas cidades-estado da Grécia) contra os invasores Persas que foram liderados pelo rei Xerxes.

Portões de Fogo tem início no período após a Batalha das Termópilas e acompanhamos Xeones, um homem grego criado pelos espartanos na condição de escravo que foi capturado pelo exército persa, Xeones foi o único homem que sobreviveu aquela sangrenta e terrível batalha no desfiladeiro das Termópilas quando o exército liderado pelo rei Leônidas e seus 300 guerreiros da elite espartana defrontaram o gigantesco exército persa composto por dois milhões de homens. Leônidas e seus guerreiros, irmãos e amigos espartanos partiram para uma missão suicida que tinha apenas um objetivo: segurar e refrear o avanço do exército persa para que o resto das cidades-estado da Grécia tivessem tempo para se organizar e unir.

"Sua vara açoitou-me com tal força que me derrubou de joelhos. O delírio das vozes sobrepujou os sentidos, todos gritando para que eu acabasse com ele. Não se tratava de raiva. Nem estavam torcendo por mim. Não podiam se importar menos comigo. Era por ele, para ensinar-lhe, para fazê-lo engolir a milésima lição das outras mil que sofreria antes de fortalecerem-no como uma rocha e o autorizarem a ocupar o seu lugar como um Par [...]" p. 104.

Xeones é levado em frente ao rei Xerxes que exige ao cativo para contar a história dos espartanos, a sua própria história, mas para isso ele precisa voltar a sua infância e começa contando ao rei persa que ele nasceu em uma família de posses na cidade de Astakos, mas que esta foi invadida e saqueada. Em certo momento ao voltar de uma feira (mercado ao céu aberto), Xeones presenciou na companhia da sua prima Diomanche e de um escravo cego, a sua família ser brutalmente assassinada e os bens roubados, não sobrou nada. Desse momento em diante o trio passa a vagar pela região, dormindo na floresta e se alimentando do que encontravam na mata, mas nunca era suficiente e por isso, os jovens Xeones e sua prima Diomanche começaram a realizar furtos ou roubos para poderem sobreviver, enfrentaram diversas dificuldades e o destino fez com que seus caminhos se separassem.
"Um grito, metade de júbilo e metade admiração, ecoou da garganta dos espartanos. A linha siracusana recuou, não em debandada desordenada como haviam feito os antirhionianos, mas em pelotões e grupos disciplinados, comandados por seus oficiais, ou outro homem corajoso que havia assumido o posto dos oficiais, mantendo os escudos na frente e as fileiras cerradas enquanto faziam a retirada [...]" p. 132.

Xeones em meio às suas andanças é feito prisioneiro e escravo, acabou parando em Esparta, lugar onde os homens nascem predestinados a tornarem-se guerreiros e praticamente possuem a obrigação de lutar até o fim de seus dias. Em Esparta as dificuldades não diminuem para Xeones, a sua vida é extremamente difícil e por vir de outra polis, suas dificuldades aumentam e ele acaba virando um servo, um criado. Entre as diversas obrigações diárias, Xeones precisava servir como bucha para os jovens espartanos nos treinamentos militares e por ser uma "cobaia" ele acaba aprendendo sobre a arte militar de Esparta, porém é durante esses árduos treinamentos que muitas crianças e jovens morrem, aos 10 anos eles são considerados homens. Apesar do treinamento ser desumano e cruel, isso é algo para todos, não há como fugir dessa obrigatoriedade. Xeones consegue vencer essa etapa e acaba tornando-se um escudeiro, posto este de muitas responsabilidades.

"Atrás do Muro, Leônidas assumiu, mais uma vez, sua posição diante da assembléia. O tríceps do seu braço esquerdo estava rompido; lutaria naquele dia com o escudo amarrado com couro em volta do ombro. No entanto, o porte do Rei espartano só poderia ser descrito como disposto. Seus olhos brilhavam, e sua voz se transmitia facilmente, com força e autoridade." p. 395.
Opinião: Steven Pressfield leva ao leitor um livro repleto de detalhes e informações históricas, é maravilhoso poder acompanhar a cultura helênica de forma geral, mas em especial de Esparta que é o foco da atenção e isso ocorre por meio de uma narrativa multifacetada, são diversos pontos de vista na trama. Os personagens apresentados por Pressfield são espetaculares, são bem construídos, densos e profundos, possuem anseios e medos, apresentam personalidade própria. Esse livro por abordar um período histórico e cultural em que os homens dominavam a sociedade, era para esperar que o protagonismo recairia exclusivamente sobre eles, porém não é isso que acontece, pois Pressfield além de destacar protagonistas homens como Dienekes, Alexandros, Polynikes, Xeones e Leônidas, as mulheres possuem importância na trama e fica como destaque as personagens Arete e Diomanche, mulheres fortes, inteligentes e inspiradoras.
O autor traz diversas informações através do relato de Xeones sobre os treinamentos, táticas militares, alimentação, armas, usos e costumes dos espartanos, de forma geral o cotidiano deles, achei isso extremamente interessante e enriquecedor. Pressfield retrata de forma nua e crua a crueldade e brutalidade presente no campo de batalha, todo o medo e as dores que os homens precisavam enfrentar, existem cenas pesadas, amputações, perda de membros, sangue e fezes. Fica claro por meio de Portões de Fogo que os soldados espartanos eram extremamente disciplinados e organizados, lutavam como uma unidade, não tinha espaço para as individualidades no campo de batalha e era por meio dessa disciplina e do árduo treinamento que começava ainda na infância que eles eram extremamente temidos por todos.
Pressfield em meio a esse período brutal de guerra demonstra o lado humano dos seus personagens, a honra, a força da palavra, a tenacidade de cada homem, mostra também a doação de um ser humano ao próximo, dando a sua vida em nome de algo maior, de uma causa e um objetivo que é para todos, resumindo na crença e confiança deles que dias melhores virão para os helênicos. Nós acabamos por acompanhar de perto todo o sofrimento e conquista, os dramas e desafios que cada guerreiro espartano precisa enfrentar e tudo parece muito real. Portões de Fogo é um livro imperdível, é sensacional, maravilhoso, me falta adjetivos para qualificar esse livro, vai muito além do campo de batalha. Esse é um dos livros favoritos da minha vida, já li algumas vezes em uma antiga e rara edição que saiu no ano 2000, mas agora a Editora Contexto me proporcionou novamente essa bela leitura ao me enviar a edição que publicaram no segundo semestre de 2017.
Sobre a Edição: Portões de Fogo recebeu uma nova roupagem, agora pelo selo Marco Polo que foi lançado em 2017 e pertence a Editora Contexto. A edição ficou caprichada e contem diversos detalhes, a capa ficou muito bonita e retrata os espartanos prontos para a batalha. A diagramação está muito boa, as folhas são amarelas, a revisão ficou muito boa e ainda conta com alguns mapas. O selo Marco Polo está de parabéns pelo projeto gráfico apresentado.
Sobre o Autor: Steven Pressfield é americano, escritor e autor de peças teatrais. Seus livros retratam principalmente a ficção histórica militar em ambientes da antiguidade clássica. Suas obras de ficção histórica têm alto valor de pesquisa, mas, para dar andamento ao drama, Pressfield pode alterar alguns detalhes, como a seqüência dos eventos, ou fazer uso de termos contemporâneos e nomes de locais celebrados, com o objetivo, segundo ele, de tentar capturar o “espírito dos tempos”. O épico Portões de Fogo é requisito na Academia Militar dos Estados Unidos e no Instituto Militar de Virgínia, e, de acordo com o L. A. Times, “alcançou status cult entre marines”. Pressfield serviu ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos na década de 1960, e mais tarde se graduou na Universidade Duke.