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[RESENHA #303] O ESCRAVO DE CAPELA - MARCOS DEBRITO

Título: O Escravo de Capela
Autor: Marcos DeBrito
Editora: Faro Editorial
Páginas: 228
Ano: 2017
ISBN: 9788562409899
Onde Comprar: Amazon - Saraiva

Sinopse: Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore. Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em “O Escravo de Capela”, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos. Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte. Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas. 


Resenha: Estamos no final do século XVII, é o ano de 1792, período em que a escravidão está em plena atividade no cenário do Brasil Colônia. Nesse cenário somos levado para a Fazenda Capela da família Vasconcelos que com inúmeros escravos trabalha no cultivo da cana-de-açúcar. A fazenda é comandada por Antônio Batista da Cunha Vasconcelos Segundo, primogênito do senhor da fazenda. Antônio é um homem de 35 anos de idade, rude e sádico que tem prazer em ter em suas mãos o controle da vida e morte dos escravos.

Entre os diversos escravos da Capela, vamos conhecer Akili o escravo mais velho da fazenda e Sabola Citiwala um novo escravo da propriedade que não fala a língua portuguesa, foi raptado do seu lar e forçado a virar escravo. Sabola só fala a sua língua nativa e por isso ele precisará dispender de um grande esforço para entender as ordens que recebe. Sabola Citiwala fica muito revoltado por ser escravo e ter esse novo tipo de "vida". Diante do seu comportamento, ele torna-se um alvo fácil de Antônio que por sinal adora castigar e ensinar os escravos a obedecer suas ordens por meio do uso da chibata.
Enquanto a vida segue na fazenda, vemos que o grão-senhor Antônio Batista é um homem pragmático e apesar de não gostar dos excessos cometidos por seu filho mais velho, não se preocupa com os escravos, desde que os mesmos consigam trabalhar. O grão-senhor ainda guarda alguns segredos, um especial que envolve o seu filho mais novo, Inácio Batista.

"As pás foram movidas e o defunto desmembrado começou a ser enterrado sem sequer terem lhe retirado o saco encharcado de sangue da cabeça. Apenas a boca escancarada, que insistentemente buscara o ar nos seus últimos suspiros, estava descoberta e não foi poupada de ser alimentada com a terra que o encobria." p. 100.

O caçula Inácio ficou cinco anos longe da fazenda estudando medicina na Universidade de Coimbra, localizada em Portugal e ao chegar na fazenda, ele fica escandalizado com a brutalidade apresentada por seu irmão Antônio. Inácio é completamente diferente do irmão mais velho, ele é contra a escravidão e acha um absurdo o pai e o irmão utilizarem de seres humanos como escravos na Fazenda Capela. O grão-senhor demonstra um certo incômodo e ressentimento para com o jovem filho e o vê como um garoto mimado, já que o mesmo não pega no pesado, além de se meter onde não é chamado.
Com o passar do tempo a indignidade e revolta de Sabola Citiwala pela vida que leva só aumenta, por isso ele decide empregar uma fuga da fazenda e acaba recebendo a ajuda de Fortunato, um escravo que tem graves sequelas em suas pernas, por algo que aconteceu na fazenda. Porém o plano de Sabola não ocorre como o imaginado e ele acaba morrendo. Após a sua morte, alguns acontecimentos no mínimo estranhos ocorrem e a família Vasconcelos começa a vivenciar um grande pesadelo.

Opinião: O Escravo de Capela foi muito bem escrito e construído, Marcos DeBrito mescla elementos do folclore nacional abordando a origem do Saci com elementos históricos. Fica claro que o autor realizou uma pesquisa histórica sobre o Brasil Colônia, criando uma história de terror fantástica em que não poupa sangue e brutalidade. Achei particularmente inovadora a premissa e esse cenário construído por DeBrito. O autor ainda nos faz torcer para que alguns personagens acabem se dando mal, tamanha indiferença ou crueldade dada ao próximo.
Em suma, DeBrito nos apresenta um ótimo livro de terror, repleto de assassinatos, mortes descritas de forma nua e crua, nos aterrorizante pela brutalidade.  A escrita de DeBrito é fluída, o livro é envolvente, além disso O Escravo de Capela consegue nos levar ao campo da reflexão, pois o livro é impactante, triste, brutal e demonstra todo o período nefasto da história brasileira no período colonial que utiliza e esgota a vida de seres humanos, de negros na condição de escravos, obrigando-os a viverem em situações desumana.
Sobre a Edição: O projeto gráfico da Faro ficou muito bom, não deve em nada aos grandes grupos editoriais. A diagramação, layout e revisão só demonstram o capricho e zelo que a editora aplica em seus livros. O Escravo de Capela é um livro repleto de detalhes, como por exemplo as bordas das folhas serem avermelhadas. A capa por sinal é muito bem feita, tem um ar de mistério e suspense.
Sobre o Autor: Marcos DeBrito nasceu em Florianópolis e atualmente mora em São Paulo para onde foi estudar cinema. Atualmente trabalha como diretor, roteirista e é também autor, tendo escrito quatro livros incluindo O Escravo de Capela. DeBrito já venceu o prêmio especial do júri no Festival de Gramado com o seu curta-metragem Vídeo sobre Tela de 2001.

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7 Comentários

  1. Oiii tudo bem?
    Eu tenho muita vontade de realizar a leitura desse livro, principalmente por abordar uma época um tanto triste, mas que aconteceu, gostei de saber a sua opinião e não pensaria duas vezes a não ser aceitar a ler, essa capa está linda.
    Beijinhos

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  2. O título não me chama muita atenção, mas gostei da premissa e gostei mais ainda de ter coisas do nosso folclore.
    Super daria uma chance.

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  3. Olá, achei super interessante esse livro abordar a questão da escravidão no Brasil, acho que nunca li um livro cujo tema fosse esse, ainda mais com essa dose de terror, com certeza lerei quando puder. Ótima resenha.

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  4. Olá!
    Que coisas estranhas começam a acontecer depois da morte de Sabola? Ahh não me deixe mais curiosa do que já estava, desde que li a sinopse desse livro que quero ler, a resenha me deixou pensando um monte de coisa, desde o escravo se tornar a assombração da Fazenda até o filho mais novo ser filho de escrava. Mas vc não disse se gostou do final.
    Bjs

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  5. Olá! Não conhecia o livro mas gostei bastante da premissa. Fiquei bastante curiosa para conhecer, principalmente a parte do mistério. A capa está bonita mesmo, super caprichada. Abraços!

    Entre Livros e Pergaminhos

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  6. interessante essas histórias que abordam fatos que realmente aconteceram, principalmente aqui em nosso país. Serve mesmo pra chocar e marcar, porque ainda há racismo é desigualdade no mundo. Amei essa capa é com certeza anotei a dica. Me lembrou muito A Cabana do Pai Tomás, com o diferencial de ser terror e as​ lendas.
    Abraços!

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  7. Que capa linda e título convidativo. E lendo a resenha, não imaginava tal enredo, o que me deixou com muito mais vontade de ler, tudo que quero, que procuro num livro, bem original.

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