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[RESENHA #96] MEMÓRIAS DO SUBSOLO - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI


Título: Memórias do Subsolo
Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: Coleções Folha (Folha de S. Paulo)
Páginas: 128
Ano: 2016
ISBN: 9788579492761

Sinopse: Nietzsche via em "Memórias do subsolo" a voz do sangue, enquanto para André Gide tratava-se do ponto culminante da carreira de Dostoiévski. George Steiner, por seu turno, qualificou-o de o mais dostoievskiano dos livros e como a suma da obra do escritor. Ao escrevê-las, em 1864, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) abria a fase de sua produção que o consagraria como o autor russo mais conhecido fora de seu país, e um dos mais influentes do século XIX.

Resenha: Memórias do Subsolo foi publicado originalmente em 1864, quando a esposa de Dostoiévski encontrava-se à beira da morte, vítima de tuberculose. O livro é uma espécie de diário, onde o personagem expõe toda a sua frustração sobre os seus relacionamentos, bem como sobre a sociedade e sobre si mesmo.

"Sou um homem doente... Sou um homem perverso. Sou um homem nada atraente. Acho que tenho dor no fígado. Aliás, não entendo patavina da minha doença e não sei de verdade o que é que me dói." p. 5.

Em Memórias do Subsolo o autor nos apresenta um compêndio das memórias de um empregado civil aposentado, morador de São Petersburgo. O personagen se define como um homem doente, que sofre do fígado e possui uma amargura bem profunda em seu ser. 


"Por exemplo, tenho um amor-próprio terrível. Sou desconfiado e suscetível como um corcunda ou um anão mas, na verdade, ocorreram-me uns instantes nos quais, se tivessem me dado uma bofetada, talvez eu tivesse ficado até feliz." p. 10.

A vida o irrita, é um estorvo para ele. Tudo para conspirar de forma negativa em sua vida, zombando da sua condição. Como vingança, pois não consegue realizar nada de concreto ou mudar as condições que enfrente, o personagem acaba se afundando em um mar de fel.

"Mas quanto amor, senhores, quanto amor vivenciei nesses meus sonhos, nessa salvação em tudo que é belo e sublime.." p. 57.

O personagem descreve-se ainda como um homem mau, preguiçoso, cheio de vícios, vendo-se sempre como superior em relação aos que o rodeiam e busca colocar a sua opinião acima de todas as outras, chegando ao cúmulo do absurdo de dizer que os seus vícios possuem vontade própria.

Durante a leitura, somos apresentados ao subsolo, suas descrições e caracterizações, com isso percebemos que metaforicamente, o subsolo é na verdade o seu interior pessoal, onde explanações, explorações e questionamentos ocorrem.

Opinião: Dostoiésvki em Memórias do Subsolo demonstra a personalidade do personagem, sem nunca mencionar o seu nome, embora este seja conhecido como o "Homem Subterrâneo". Na primeira parte da obra, o autor explana e teoriza os ideais do personagem, algo que me foi particularmente interessante, fiquei com a sensação que estava em um diálogo com o narrador.
A narrativa de Dostoiévski é direta, objetiva e está impecável, converte o comportamento do personagem em uma sinfonia infernal de desprezo de si. O texto é muito rico em informações e complexo, por isso, acredito que eu não tenha conseguido absorver todas as ideias e mensagens que o autor tentou transmitir. 

Esse é um grande romance, que aborda a natureza existencialista em seu núcleo, com pitadas de sarcasmo. Foram vários os paradoxos apresentados pelo autor, como por exemplo o sentimento de superioridade intelectual, mas que na verdade demonstra ser inferior pelos atos e condutas apresentadas pelo personagem. Faço uma ressalva, apesar de ter Crime e Castigo e Irmãos Karamázov, esse foi o meu primeiro contato com Fiódor, ainda não li os livros citados.
A Coleções Folha (Folha de S. Paulo) fez novamente um lindo trabalho, com uma capa espetacular, folhas amareladas, fontes confortáveis, existe notas no rodapé, impressão em papel Chambril e por fim, uma lista com todos os 28 volumes da coleção.

Esse livro recebemos em parceria com a Coleções Folha, faz parte da coleção Grandes Nomes da Literatura, pode ser adquirido tanto pelo site da editora como em bancas de jornais. Super recomendo a obra, pelo fato da coleção ser essencial para os amantes de literatura e também pelo belo trabalho que a editora tem feito.

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