O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola: baseado no livro homônimo de Mario Puzo.
Puzo teve o mérito de criar um bocado de grandes personagens ao contar a história da família Corleone e há alguns momentos em seu livro que são memoráveis. Exemplo: a revelação do passado de Luca Brasi, explicando porque ele era uma figura tão temida, e o comentário do consigliere original de Vito Corleone, no leito de morte, sobre a natureza de seu Don. Por outro lado, a narrativa de Puzo beira o sensacionalismo, é apelativa aqui e ali, e dedica um grande espaço a subtramas um tanto desnecessárias. Ou alguém, ao ver o filme de Coppola, quis saber mais sobre a vida do cantor Johnny Fontane em Los Angeles ou sobre os efeitos do grande dote peniano de Sonny Corleone sobre a vagina de Lucy Mancini? Pois é... O trabalho de adaptação realizado pelo diretor e pelo próprio Puzo foi preciso na eliminação dessas subtramas e na eleição da ascensão de Michel Corleone ao poder como seu único ponto de interesse. E é claro que se juntam a isso os fatores puramente cinematográficos, fundamentais para o resultado final que se vê nas telas: a direção classuda de Coppola, a música de Nino Rota, o casting absolutamente acertado, do então novato e desconhecido Al Pacino ao maldito Marlon Brando.
Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick, baseado no livro homônimo de Anthony Burgess: O livro de Burgess é maravilhoso. Mesmo. Mas Kubrick era um gênio da imagem e do som, um mestre talvez inigualável na combinação do que se vê com o que se ouve num filme, um esteta do rigor criador de imagens impossíveis de esquecer. E, nesse caso específico, um elemento de sorte entrou na jogada: adaptando a obra de Burgess com bastante fidelidade, Kubrick, ao que contam, leu uma versão que não continha o último capítulo, conclusão decepcionante pelo moralismo da leitura que o autor faz de seu protagonista, o controverso, Alex.
Resultado: o diretor nova-iorquino encerrou seu Laranja Mecânica no que equivale ao fim do penúltimo capítulo do original, trocando o moralismo pela ironia absoluta constante neste. Golpe do acaso ou não (talvez essa história não seja verdadeira e Kubrick tenha conscientemente optado por terminar seu filme com o retorno dos desejos ultraviolentos de Alex), nasceu daí uma obra-prima absoluta do cinema.
Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, adaptado do livro homônimo de Mário de Andrade: Outro caso difícil, pois estamos diante de um dos grandes clássicos da literatura brasileira, ícone modernista. Mas o filme de Joaquim Pedro é absolutamente genial do início ao fim, na maneira como leva para o Brasil dos anos 60, misturando tropicalismo, luta armada e crítica à antropofagia capitalista, o livro de Mário. Um dos grandes, e poucos, sucessos de público do Cinema Novo, Macunaíma é uma delícia de filme, que ainda nos dá de presente a inesquecível interpretação de Grande Otelo como a versão negra do personagem título. Ai, que preguiiiça...
Apocalipse Now (1979), de Francis Ford Coppola, adaptado do livro The Heart of Darkness, de Joseph Conrad: Mais uma mexida com um clássico, dessa vez da literatura inglesa sobre o mundo colonial. Perturbador, o livro de Conrad ganhou uma versão cinematográfica ainda mais perturbadora nas mãos de Coppola, que levou a ação do Congo belga para a Guerra do Vietnã e fez o filme definitivo sobre a loucura das guerras em geral, e daquele em particular. Como disse o diretor ao apresentar o filme no Festival de Cannes de 1979, seu filme não era sobre o Vietnã, mas era o próprio Vietnã. Difícil discordar, tamanha a potência que Coppola conseguiu imprimir na tela. Marlon Brando, mais uma vez, rouba a cena, aqui num papel menor que o de O Poderoso Chefão, mas tão impactante quanto.
Confira mais sobre filmes em: Crônicas Cinéfilas
Por Wallace Andriolli.
13 Comentários
Laranja Mecânica é sensacional, aprecio bastante e uso como ferramenta pedagógica. O Poderoso Chefão não sabia que se baseava num livro. Macunaíma é obrigatório no curso de Letras, eu amei quando vi a primeira vez. Apocalipse Now, não conheço.
ResponderExcluirDos files que vc citou, só não vi ainda Macunaíma, mas tenho vontade. Li O coração das trevas e vi Apocalypse Now, ambos são obras maravilhosas... Digo o mesmo com relação à Laranja [filme/livro], mas O poderoso chefão eu só vi o primeiro filme da trilogia e pretendo rever, pois faz muito tempo que assisti. Mas quero ler logo o livro pra depois voltar para a trilogia de filmes :d
ResponderExcluirVc fez ótimas escolhas para o post. Parabéns ^^
Oii
ResponderExcluirEu gostaria muuuito de assistir estes filmes, mas estou querendo comprar mesmo as obras e depois olhar, por mais que já tenham me recomendado que laranja mecânica é melhor em filme.
Beijão
Oie
ResponderExcluirjá assisti ao filme Laranja Mecanica e achei muito interessante, na verdade adorei o filme e espero com certeza ler em algum momento e gostar bastante
Beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Olá,
ResponderExcluirVamos por parte. A obra que circula no Brasil da Editora Aleph é completa( Laranja Mecânica) e não gostei nada do fim do filme porque é contrária ao intuito do livro. O autor não dar a entender que violência é um ciclo infinito, mas que Alex percebeu que tudo que fazia era é apenas vaidade e modismo. O filme é magnífico, mas o final é obra do conceito do Kubrick.
Macunaíma é linda em ambas as apresentações e O Poderoso Chefão é maravilhoso.
Beijos!
http://poesiaqueencantavida.blogspot.com.br/
Oii
ResponderExcluirNão li Laranja mecânica, nem assisti ao filme. Mas quero muito fazer as duas coisas esse ano. Macunaíma, o livro, não consegui terminar, odeie. O filme vou tentar assistir.
Bjus
Eu ainda tenho pra mim que os livros Laranja Mecânica e Macunaíma são melhores que suas adaptações, acredito que os diretores colocam sua visão sobre a história, e eu sempre tenho aquela sensação de que eu to assistindo a opinião da pessoa, e não realmente o que o autor das obras quis repassar para os leitores, mas são muito válidos como adaptações, acredito que todos os que leram os livros deveriam assistir.
ResponderExcluirO Poderoso Chefão eu não posso falar, só sei que a adaptação é espetacular.
Desconhecia Apocalypse Now.
Juliana
claqueteliteraria.blogspot.com.br
Não assisti nenhum dos filmes, muito menos li os livros, mas o que mais me interessa em conhecer é Laranja mecânica, tanto o filme quanto o livro. Achei interessante o filme ser melhor que a leitura, é dificil isso acontecer.
ResponderExcluirbeijos
www.apenasumvicio.com
Olá amigo, adorei essa postagem. Dos que você citou eu assisti somente 'Laranja Mecânica', vergonhoso né? Preciso muito assistir 'O Poderoso Chefão'. As versões literárias eu li apenas Macunaíma, há muito tempo atrás, laranja mecânica eu comprei no ano passado, mas ainda não tive tempo para ler.
ResponderExcluirBeoijokas da Quel ¬¬
Literaleitura
Olá Wallace, tudo bem?
ResponderExcluirDentre todos, o único que tive contato direto foi Macunaíma. Assisti ao filme na época do ensino médio e li o livro durante a faculdade. Mas acredita que eu prefiro o livro? Não teria enfeitado nem metade do que o filme fez, rs.
Beijos
Ola!!!
ResponderExcluirCara... só filmaço hein!!
Infelizmente eu não li nenhum dos livros citados, mas os filmes eu assisti e amei!
beijos
Livros & Tal
Oie,
ResponderExcluirAcredita que eu ainda não assisti nenhum dos filmes, porém eles devem ser muito bons para receber o titulo de melhor que o livro, Laranja Mecânica eu sou louca para ler há muito tempo!
Mayla
Olá!
ResponderExcluircara, ainda não li nenhum desses livros. Morre de curiosidade em ler "Laranja Mecânica" sempre leio ótimos comentários e por ser uma distopia e tal. OS demais não tenho muito interesse!
Beijos
lovesbooksandcupcakes.blogspot.com