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[RESENHA #492] FRIDA E TRÓTSKI - GÉRARD DE CORTANZE


Título: Frida e Trótski
Autor: Gérard de Cortanze
Tradução: André Telles
Editora: Planeta
Páginas: 288
Ano: 2018
ISBN: 9788542212518
Onde Comprar: Amazon - Saraiva

Sinopse: Quando o coração de uma das pintoras mais cultuadas de todos os tempos encontra o de um grande revolucionário 1937. Perseguidos pelo fascismo e pelas forças stalinistas, Leon Trótski e sua esposa, Natalia Sedova, fogem para o México, onde pedem asilo. Frida Kahlo e Diego Rivera oferecem abrigo aos dois russos, que são então acolhidos não apenas na célebre Casa Azul, mas também no agitado círculo de amigos intelectuais e artistas do casal mexicano. Depois de anos repletos de perigos e conflitos com o governo de seu país, os Trótski enxergam na hospitalidade de Frida e Diego um raio de esperança, a quase certeza de dias melhores. No entanto, a paz de Leon parece ameaçada pelos encantos e pela extravagância de Frida, mulher brilhante, sensual, livre e em constante ebulição, colocando o escritor em um conflito interno entre o dever e o desejo. A Cidade do México, sempre tão colorida e caótica, equilibrada entre a magia e a loucura, é palco da história desses dois amantes, dispostos a aproveitar cada encontro como se fosse o último. Mas a morte espreita a cada esquina, e os perseguidores do revolucionário russo estão prestes a encontrá-lo. Nessas circunstâncias, o amor pode ser uma urgência, mas a luta, um imperativo.

Resenha: Frida e Trótski é um romance criado para completar as lacunas do apaixonante romance desses dois ícones no século XX mesmo que de  uma forma ficcional.

"– Senhores, eis Frida em todo seu esplendor: provocação, grosseria, virulência, o próprio surrealismo.” p. 151.

Frida é uma jovem de apenas vinte e poucos anos e está casada com o renomado muralista Diego Rivera. Ela é dona de uma personalidade forte, peculiar e singular. Ela é uma mulher decidida, independente e completamente apaixonada por viver muitos amores mesmo casada com Rivera e por isso se encanta perdidamente por Leon Trótski quando este desembarca vindo da Europa para se refugiar no México juntamente com sua esposa Natália para fugir das mãos sangrentas de seu ex companheiro, Stálin na Rússia.

Leon é um homem de sessenta anos casado há anos com Natalia e pai de quatro filhos que sofreram muitos horrores com as escolhas políticas de seus pais. Trótski compartilhava as ideias comunistas de seu companheiro Stálin, mas discordava da premissa de levar o comunismo para o Ocidente e por isso tornou-se um perseguido pela URSS. Ele foi fundamental na Revolução de 1917 na Rússia, porém isso não impediu de torna-se um foragido com sua esposa e parar num país totalmente distinto de seu lar e no México acaba encontrando pessoas que mudariam para sempre sua vida e uma delas é Frida Khalo.
Após anos de fugas e esconderijos por toda a Europa, o casal Trótski desembarca na capital asteca. Eles são convidados por Diego Rivera para se hospedar na famosa Casa Azul – lar do casal Rivera – para sua estadia no México. Eles achavam que novamente seriam exilados e tornar-se-iam presos políticos, entretanto acabaram encontrando um lugar ensolarado e com costumes e pessoas únicas.

"– A arte, quando é boa, como a sua, eleva o espírito humano. Disse Trótski. - A política, praticada por gente como você, torna o homem melhor. – respondeu Rivera.” p. 29.

Quando os olhos de Frida e Trótski se encontraram ali nasceu um amor verdadeiro e produtivo para ambos. Em 1937, eles iniciaram um romance intenso e emocionante. Frida nunca ficara tão feliz em sua vida e percebeu no russo um confidente e amigo leal e por isso abriu-se sem medo para ele. Mostrou sua obra principal: O Acidente que foi pintada após seu trágico acidente aos 18 anos, na qual ela sofrera diversas fraturas pelo corpo e tivera que passar por trinta e cinco cirurgias e a tornaram uma mulher incapaz de conceber uma criança em seu ventre.

O mesmo acontecera com Trótski. Seu relacionamento com a jovem artista o tornou mais sensível aos diálogos e o motivaram a escrever mais artigos sobre o autoritarismo de Stálin e a fundamentarem a ementa da Quarta Junta Comunista Internacional. Todavia, o romance dos dois era uma gota de orvalho para aliviar a tensão que rondava a vida do russo e Frida se entregava sem reservas para ele, caso a morte estivesse próxima, ela já teria presenteado ele com todo seu carinho e loucura.

Como será a reação da esposa de Trótski quando descobrir esse caso? E do famoso Diego que expulsava os amantes de sua esposa a base dos tiros? E será que Trótski encontrara paz no México? E como figuras tão importantes historicamente se entregaram a uma paixão perigosa para o contexto a qual estavam inseridos?
Opinião: Frida Khalo não é uma personagem fictícia. Ela fora uma famosa pintora mexicana no século XX. Sofrera mais do que um ser humano pode suportar. Aos dezoito anos sofrera um acidente que deveria a ter matado, mas por sorte ou milagres a levara para várias salas de cirurgias e a impediram de gerar uma criança. Na infância tivera poliomielite e tinha o pé esquerdo atrofiado e sofria com muitas sequelas do acidente que a levaram a optar por vestes típicas mexicanas que escondiam suas deficiências e marcavam perfeitamente sua personalidade tempestiva. Além seu sofrimento físico, ela escolhera o abusivo Diego Rivera como esposo.

“[...]Finalmente livre para viver como pretendia, imaginava que não tinha o que fazer com aquela liberdade.” p. 214.

Sua relação amorosa com ele beirava a um relacionamento obsessivo-abusivo, porque Diego a traia constantemente e não escondia dela. Sempre a subjugava desmerecendo seu trabalho e a humilhando na frente de todos. Frida não conseguia se afastar daquela relação e em sua biografia é dito que se separaram diversas vezes, entretanto nunca ficaram longe um do outro por mais de um ano.

"- Você virou um símbolo, Leon. O de uma doutrina, reta, clara, de uma certa verdade histórica. De uma luta." p. 170.

Leon Trótski era um homem de forte posicionamento político. Era bem mais velho que Frida. Era casado com Natália há muito anos e nunca se separou dela. O romance com a pintora mexicana fora apenas um encontro de almas. Ambos eram sensíveis e se encantaram com seus extremos opostos. Sua relação é confirmada por diversos indícios históricos e diários deixados pelos dois. Trótski realmente sentira um sentimento profundo por Khalo e expressara isso em seus trabalhos políticos que pareciam mais centrados após seu encontro com a jovem de apenas vinte e dois anos.

Muito do relato desse livro é pura ficção, porque não há nenhum texto escrito por nenhum dos dois envolvidos com sua história de amor, porém o autor buscou em fontes históricas para fundamentar o contexto político, social e histórico da época. Em 1936 estávamos em plena Revolução Mexicana – Frida era comunista assumida -, a URSS estava com Stálin no poder e a Europa estava mergulhada nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. Há diversos personagens históricos citados nesse romance, como, Gabriel Garcia Márquez, Lázaro Cárdenas, Pablo Picasso e outros tantos artistas, políticos e figuras públicas de diversos setores sociais.

O romance é tocante para a história dessas duas figuras históricas e fundamentais para eclosões políticas. É algo bem agradável quando vemos um autor aproximar pessoas tão importantes para a História de uma forma mais humanizada e verídica, porque Frida era tempestiva e xingava sem qualquer pudor. Vemos seu brilhantismo e seu sofrimento expresso em todos seus trabalhos e temos um Trótski em crise existencial após ser visto como traidor por um país que tanto ajudou e lutou por seu lugar no mundo. Frida e Trótski é um encantador e cruel romance que traz como personagens principais desse romance perigoso dois ícones social, político e cultural para a Humanidade.
Sobre a Edição: A capa é uma referência clara ao estilo de se vestir da Frida com muitas cores e exageros. A fonte utilizada no livro é agradável. Nenhum erro na revisão. A narração é em terceira pessoa.
Sobre o Autor: Nascido em 22 de Julho de 1948, Gérard de Cortanze é um escritor, tradutor, ensaísta e crítica literário francês. Gérard ganhou o prêmio Renaudot em 2002 por seu romance histórico Assam. Ele publicou ensaios sobre Paul Auster, J.M.G. Le Clézio e a história do surrealismo. Colaborou com a revista Le Figaro.

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