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[RESENHA #313] PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM - CLARICE LISPECTOR


Título: Perto do Coração Selvagem
Autora: Clarice Lispector
Editora: Coleções Folha
Páginas: 176
Ano: 2017
ISBN: 9788579493317
Onde Comprar: Coleções Folha - Livraria da Folha

Sinopse: "Perto do Coração Selvagem", romance de estreia de Clarice Lispector, assombrou leitores e críticos logo após sua publicação, em 1943. Tendo uma voz narrativa que ora incorpora o mundo interior da protagonista Joana, ora a contempla de fora, o livro alterna dois tempos: a infância, na qual a personagem interroga seres e coisas, e um presente intemporal como a eternidade, em que as vicissitudes de um casamento que jamais representou uma ilusão resumem os outros pequenos desastres que reconduzem a personagem a sua inadequação primordial. Com uma escrita tateante, sonâmbula, Clarice Lispector não recapitula de modo linear as vivências de Joana (como a morte do pai ou a separação do marido, visto desde sempre como um estranho), mas flagra o instante em que cada experiência ou cada encontro eclode com seu enigmático significado, apresentando-se como via de acesso ao "selvagem coração da vida" - conforme a frase de Joyce que, por sugestão do escritor Lúcio Cardoso, Clarice Lispector utilizou na epígrafe e no título desse livro que inaugura uma das obras mais inovadoras da literatura brasileira. Manuel da Costa Pinto - Crítico literário e colunista da Folha.


Resenha: Perto do Coração Selvagem foi publicado originalmente em 1943 e esse foi o primeiro livro escrito por Clarice Lispector quando a autora tinha 23 anos. Nessa leitura conhecemos a história de Joana a personagem central do livro. Ela é uma mulher que não teve uma mãe presente em sua infância, pois ela morreu quando Joana era muito pequena e a garota acabou convivendo com o pai somente nessa fase, a quem confiou as suas incertezas infantis. Joana mostrava ser uma garota sonhadora e vivia provocando os adultos com diversas questões e opiniões.

"Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer." p. 9.

Ainda criança, Joana tinha medo de dormir sozinha e gostava de ocupar parte do seu tempo escrevendo versos. Porém, em certa altura de sua vida, Joana  foi acolhida por seus tios e no início teve dificuldade para se adaptar na casa, devido a severidade com que era tratada. A relação com a sua tia se mostrou tensa, porém foi algo aceitável. Com os tios a garota viveu durante algum tempo, porém posteriormente foi enviada por eles para viver em um internato devido aos pedidos de sua tia.

"A noite veio e ela continuou a respirar no mesmo ritmo estéril. Mas quando a madrugada clareou o quarto docemente, as coisas saíram frescas das sombras, ela sentiu a nova manhã insinuando-se entre os lençóis e abriu os olhos. Sentou-se sobre a cama. Dentro de si era como se não houvesse morte, como se o amor pudesse fundi-la, com se a eternidade fosse a renovação." p. 29.

É no internato que Joana encontra o seu porto seguro, um professor casado que sempre lhe dá ouvidos e conselhos, na medida do possível. Ele acaba tornando-se o seu amor. Com o passar do tempo Joana é desligada do internato e casa-se com Otávio, ambos são jovens e cheios de divagações, contudo o casamento não dá certo, pois Otávio acaba reencontrando a sua ex-noiva Lídia, a quem acaba engravidando. Tendo em vista o término do casamento, Joana parte para uma jornada que visa se resgatar em seus próprios pensamentos, mas também descobrir a sua própria essência.
"A noite densa e escura foi cortada ao meio, separada em dois blocos negros de sono. Onde estava? Entre os dois pedaços, vendo-os - o que já dormira e o que ainda iria dormir -, isolada no sem-tempo e no sem-espaço, num intervalo vazio. Esse trecho seria descontado de seus anos de vida." p. 111. 

Opinião: Narrado em terceira pessoa, Perto do Coração Selvagem é uma leitura um tanto quanto subjetiva e nos leva a processar os nossos sentimentos em relação à vida e ao amor. Clarice apresenta Joana, uma personagem densa e inquieta que busca em certa parte da sua vida encontrar o seu próprio eu. Joana é também uma personagem que aparenta estar a beira do abismo e repleta de dilemas. A personagem nos apresenta um drama existencial muito humano, nos levando a ficar solidários com a sua situação.
O livro não apresenta uma história linear, os capítulos se alternam entre flashbacks com momentos da infância, adolescência e a fase adulta da personagem. Clarice Lispector apresenta um enredo que dá liberdade para o leitor interpretar a narrativa e tirar suas próprias conclusões. O livro fala de forma geral sobre a vida e suas nuances, passando por aspectos como a felicidade, infelicidade, tristeza e a alegria.
Por fim, esse é um livro forte e que envolve o leitor. Recomendo a leitura de Perto do Coração Selvagem para aqueles leitores que querem sair da zona de conforto e também buscam por inspiração, pois a autora nos conduz a um processo de reflexão, pois esse é um romance que nos faz ficar conectados a nós mesmos. Agradeço à Coleções Folha por me enviar esse livro fabuloso!
Sobre a Edição: Essa é uma edição em capa dura, marca registrada da Coleções Folha (Folha de S. Paulo), a fonte e espaçamento estão confortáveis, as folhas são amareladas e os capítulos são relativamente curtos, esses aspectos facilitam a leitura. A edição conta ainda com sumário e a lista com os 30 volumes que fazem parte da coleção.
Sobre a Autora: Clarice Lispector nasceu em Chechelnyk, uma pequena cidade da Ucrânia em 10 de Dezembro de 1920, e chegou ao Brasil com dois meses de idade, naturalizando-se brasileira posteriormente. Clarice cresceu em Maceió e Recife, aos doze anos de idade mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária. Viveu muitos anos no exterior em função do casamento com um diplomata brasileiro. A autora teve dois filhos e faleceu em dezembro de 1977, no Rio de Janeiro.

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