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[RESENHA #79] O NAZISTA E O BARBEIRO - EDGARD HILSENRATH

Título: O Nazista e o Barbeiro
Autor: Edgar Hilsenrath
Editora: Gryphus
Páginas: 230
Ano: 2013
ISBN: 9788560610990
Onde Comprar: Livraria Travesa - Livraria da Folha

Sinopse: O nazista e o barbeiro: uma história de vingança, obra mais conhecida do judeu alemão Edgard Hilsenrath, considerado atualmente um dos mais respeitados escritores contemporâneos da Alemanha. O livro conta história de um membro das SS nazista e assassino em massa que assume o papel de uma de suas vítimas e se transforma num respeitável cidadão e barbeiro em Tel Aviv.


Resenha: Temos aqui uma obra um tanto complicada de se falar, porque tem uma narrativa bem diferente das utilizadas para obras que permeiam o fundo da Segunda Guerra Mundial.

O autor nos conta a história de Max Schulz, um alemão bastardo que não sabe quem é seu pai, já que sua mãe se deitava com diversos homens para ganhar uns trocados e sustentar a si e seu filho, mas ele desconfiava que o mordomo do prédio próximo de sua casa devia ser seu pai, pois pareciam demais.

Sua mãe foi expulsa na casa a qual trabalhava por causa da criança e mudou-se para o casebre do barbeiro chamado Anton Slavitzki que é um profissional meia-boca que vive jogando pragas para seu concorrente principal: Chaim Finkeslstein é judeu e é dono de um Salão para Cavalheiros e fatura muito bem.

O filho de Chaim, Itzig nasceu no mesmo dia de Max e isso o torna amigos de a infância. Max parece um judeu em aparência. Tem olhos grandes de sapo, boca carnuda, pele morena e cabelo castanho. Já o judeu Itzig tem olhos azuis, branco, alto, sorriso maravilhoso e uma inteligência incomparável.

Max sofre abusos constantemente em seu lar, pois Anton o agride fisicamente e emocionalmente. Sua mãe parece omissa nesses momentos e não protege seu filho e isso desencadeará o nascimento do lado sombrio no garoto. Eles e Itzig serão amigos durante a faculdade, na qual serão exemplos de perseverança e inteligência, mas terminará no inverno de 1937 quando Max se juntar com as forças nazistas e assim dando início ao maior massacre do século XXI.

Nosso jovem alemão é um homem sem escrúpulos e começa matando por ordens superiores, porém com o tempo mata para se distrair ou por raiva. Num discurso feito por Hitler sobre a supremacia ariana, Max fascinou-se com a teoria do chicote, onde cada alemão teria o poder de chicotear quem tirou seus empregos ou infernizou sua vida. Isso era uma terapia de libertação de forma extrema e explicação. O jovem viu em sua frente a chance de extravasar os anos de tortura com seu padrasto e as humilhações vinda de seus vizinhos.

Em 1939 as ruas Schillerstrasse (Schiller) e Goethestrasse (Goethe) foram devastadas pelo terror. Os alemães que viviam ali se voltaram contra seus vizinhos judeus e o massacraram. Os poetas assistiam os momentos macabros de forma silenciosa e choravam que seu país tenha se entregado a barbárie. O caos se estende até 1944 quando a Rússia, Inglaterra e EUA chegam para derrotar as tropas alemãs.

Em 1944 Max está no inverno congelante da Polônia e ver-se como único sobrevivente de seu pilotão. Todos seus companheiros de guerra foram mortos numa emboscada polonesa. Ele fugira com uma caixa de dentes de ouros tirados das bocas dos judeus mortos. Ele nunca mais conseguiu dormir. Todas as noites sonha com os rostos das pessoas que matou e jogou em covas sem nomes. Sem honra. Vistos como escória da sociedade. Renegados por um Ditador sem escrúpulos.

“ [...] porque um PONTO não é uma VÍRGULA, mas um PONTO, e um ponto marca o seu FINAL. ” (Pág. 17)

Ele se refugia num casebre com uma senhora. Ela o violenta e consequentemente tomado pelo monstro que se transformara, Max mata a velha e parte para Berlim. De volta a Alemanha, ele toma a identidade de alguém que morreu no outono de 1940: Itzig Finkeslstein. Agora ele é judeu. De perseguidor passa a ser perseguido.

Será que Max/Itzig conseguirá fugir das tropas norte-americanas e não ser condenado por suas crueldades? Será que conseguirá sobreviver com os fantasmas das pessoas que ele matou? Quem matou Itzig Finkeslstein?

Opinião: O enredo é bem complexo. Algumas vezes tive que reler algumas partes por causa da escrita cheia de significados nos acontecimentos. O autor traz uma história contada sob efeitos surrealista.

Nosso narrador – que se trata de Max Schulz – sempre conta sua história sob uma ótica pessoal e carregada de passagens que não tem fundamento lógico, como comparações com serpentes (chicote que ela apanhava do padrasto), espada divina (mão do Furher) e tantas outras que precisam ser bem analisadas para que os leitores compreendo.

Max é um personagem bem esquisito. Em nenhum momento consegui sentir compaixão dele, porque ele sabia o que fazia. Conhecia as consequências e o que é certo e errado, mas sempre escolhia o lado ruim. Matou dezenas de pessoas por puro ódio pelo diferente. Não era apenas uma válvula de escape. Ele era cruel e ferino julgador da moral humana.

Os personagens secundários são muitos, mas nenhum é relevante, pois tudo se concentra na mente perturbada de Max.

O autor conseguiu demonstrar que o Nazismo partiu do princípio da frustração alemã com sua derrota na Primeira Guerra Mundial e encontrou um povo perfeito para ser alvo de sua fúria. Hitler pegou a autoestima massacrada dos alemães e os alimentou com versículos distorcidos para fortalecer sua concepção macabra e cruel.

Um povo levado por suas decepções derramou seu ódio pela Europa nos judeus. Colocavam as crianças contra seus amigos. Mataram sem pena ou misericórdia. Todos foram culpados. Os soldados que seguiam as ordens de um austríaco sem alma até os pais de famílias que assistiam de suas casas o desenrolar da guerra mais sangrenta da Humanidade.

Max é a personificação dos nossos pesadelos. Na mente dele observamos a nós mesmos. Dúvidas, medos, frustrações, mágoas e tantos outros sentimentos ruins que alimentados nos transformam em monstros sem racionalidade e perdão.
A capa do livro com a Tesoura em detalhe mostra a linha tênue que separa a Bondade da Crueldade; a Sanidade da Loucura e da Humanidade e Selvageria.

A diagramação tem uma fonte bem agradável que não me prejudicou em momento algum, mas folhas brancas não ajudaram muito quando quis ler dentro do ônibus com a luz do dia.

O Nazista e o Barbeiro é um livro com plano de fundo a Segunda Guerra Mundial, mas que traz uma escrita incomum aliada a uma análise psicológica tanto da mente de quem alimentou o Nazismo quanto de quem sofreu com essa época obscura da Europa.

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