[RESENHA #138] ONDE CANTAM OS PÁSSAROS - EVIE WYLD

Título: Onde Cantam Os Pássaros

Autor: Evie Wylde

Editora: Darkside Books

Tradução: Leandro Durazzo

Páginas: 256
Ano: 2015
ISBN: 9788566636529
Onde Comprar: Amazon - Saraiva

Sinopse: No premiado romance de Evie Wyld, a fazendeira Jake White leva uma vida simples numa ilha inglesa. Suas únicas companhias são rochedos, a chuva incessante, suas ovelhas e um cachorro, que atende pelo nome de Cão. Tendo escolhido a solidão por vontade própria, Jake precisa lidar com acontecimentos recentes que põem em dúvida o quanto ela realmente está sozinha – e o quanto estará segura. De tempos em tempos, uma de suas ovelhas aparece morta, o que pode ser muito bem obra das raposas que habitam a floresta próxima à sua fazenda. Ou de algo pior. Um menino perdido, um homem estranho, rumores sobre uma fera e fantasmas do seu próprio passado atormentam a vida de uma mulher que sonha com a redenção.

Aos poucos, vamos descobrindo mais sobre as suas habilidades em tosquiar e cuidar de ovelhas, aprendidas ainda quando jovem, em sua terra natal, na Austrália. E vamos aprendendo também o que aconteceu lá, que acabou por conduzir White à uma vida de reclusão e isolamento. E sobre as contradições e diferenças entre um passado (sempre narrado no tempo verbal presente) cheio de vida e calor, e o presente (narrado por sua vez no passado) repleto de lama, frio e um ritmo mais desacelerado, paira uma atmosfera absolutamente brutal.

Com uma prosa verdadeiramente excepcional, o estilo da autora reúne tanto clareza como substância e apresenta uma personagem inesquecível, enigmática, trágica, assombrada por um passado inescapável. Uma mulher forte, ainda que tão passível de falhas, erros e equívocos como todos nós. É uma história de solidão e sobrevivência, culpa, perda e o poder do perdão. Uma escrita visceral onde sentimos a presença de tudo, os odores, o vento, o tempo. Nada passa desapercebido.

Resenha: Evie Wyld nos apresenta a história da australiana Jake White, uma mulher solitária, mal-humorada que deixa o seu país de origem e vai morar sozinha em uma velha fazenda localizada em alguma ilha da Inglaterra. 

No início da leitura acompanhamos alguns acontecimentos narrados por Jake White que oscilam entre o presente e passado. Jake em sua fazenda tem a companhia de um cachorro que se chama cão, além do rebanho de ovelhas que cuida. É através da criação das ovelhas, da venda de lã e carne que Jake obtém o seu sustento.

"As garotas riram e me mostraram o dedo. Enquanto eu passava, o garoto do laço baixou as calças e me mostrou sua bunda branca." p. 11.

No decorrer da leitura vemos que Jake evita interagir, se "misturar" com a população local, que sempre lança para ela olhares curiosos, algo que se agrava pelo fato dela ser solteira. Ainda conhecemos o passado de Jake, cheio de momentos que atormentaram a sua vida, demônios que voltam para persegui-lá.

Em certa oportunidade da trama, os animais de Jake começam a aparecer mortos, algo que ocorre em doses homeopáticas, pois vão morrendo de um a um, com sinais claríssimos de violência. As mortes motiva a ida de Jake na delegacia, mas lá ela é mal recebida, existe desconfiança de todos. Jake não sabe quem ou o que pode ser o responsável pelas crueldades, pois pode ser tanto um ser humano como alum animal. A personagem precisa lidar com esses acontecimentos, que a deixam intrigada sobre a possibilidade de estar ou não realmente sozinha.

"Diabo de mãos grandes, diz um homem chamado Alan, segurando minhas palmas abertas no bar de Fleeced Lamb, em Kalgoorlie. Há algo na maneira profissional com que ele segura minhas mãos que me faz relaxar, como se ele estivesse olhando para o casco de uma cabra." p. 70.

Um dia durante o pastoreio, uma das ovelhas se atola na lama e Jake recebe a ajuda de um estranho, que do nada aparece com ares de perdido. Com a iminente vinda de uma forte tempestade, Jake acaba dando abrigo para esse estranho que acaba se apresentando com Lloyd. Em diante vamos oscilando entre o passado e o presente, cada vez mais conhecendo Jake White.

Opinião: Evie Wyld criou uma personagem que consegue ser misteriosa, trágica, assombrada constantemente por seu passado, que desistiu do convívio com o ser humano e não sente mais prazer nas coisas que a vida lhe apresenta. É bem interessante todo esse cenário repleto de medo e cicatrizes que a autora criou para a personagem principal, a conduta desta em face ao seu passado sombrio e experiências vivenciadas.

Em Onde Cantam Os Pássaros temos descrições bem detalhadas e por vezes impactantes, o que nos faz recriar as sensações da personagem e os cenários. A narrativa não é linear, todavia fluiu muito bem, porém oscila entre o presente e passado, algo que desafia. A autora nos apresenta alguns personagens importantes e irrelevantes, alguns que influenciaram a vida, o percurso de Jake White.

Evie Wyld apresenta uma trama marcante, com diversos sentimentos e que me fez ficar curiosa sobre os desdobramentos, sobre o passado da vida de Jake White, me prendendo na leitura, principalmente por misturar drama com suspense psicológico.

A obra levanta questões polêmicas como prostituição, drogas e violência, ou seja, para alguns leitores pode ser uma obra pesada. Esse é um livro pequeno, com aproximadamente 256 páginas, porém denso, rico em conteúdo.

Esta edição está muito bonita, capa dura levemente aveludada e rosa, bem detalhada, fontes confortáveis, marcador de páginas em cetim, lombada colorida, laterais das folhas em cor preta, folhas internas amareladas.